segunda-feira, 12 de março de 2012

GOTAS DE CHUVAS...Lu Dias


Lu Dias


O domingo amanheceu frio e molhado.
Uma chuva fina caía muda e persistente,
Salpicando de água a vida em derredor,
Pondo preguiça no coração da gente.
Ainda de camisola olhava pela janela,
Através dos vidros bordados com água,
O pequeno jardim, um pouco abaixo,
De onde um cheiro de terra emanava.
O frio empurrou-me de volta pra cama.
No chão, O Mundo de Sofia repousava,
No meio de revistas, poemas e jornais.
Meus olhos pelo quarto vagavam.
Alojei meus olhos preguiçosos na janela,
Onde a chuva descia em gotas festivas,
E me deixei levar pelo som e compasso,
Daquelas ágeis e pequeninas divas.
Uma gota caía aqui, outra pulava acolá…
Elas desciam dançando na superfície lisa
Do retângulo de cristal afumado e gélido,
Como bailarinas de uma estação polar.
Mais à frente, uma gota encontrava outra.
Abraçavam-se, formando uma nova pinga,
Bem mais rápida, encorpada e insinuante,
Rolando em direção de outra menina.
Fiquei pensando nas tantas palavras
Que, como gotas eu espalhei pela vida:
Umas com rimas pobres, bem sofridas,
Outras com rimas ricas, desalmadas.
Umas foram se ajuntando às outras,
Como as árvores tecem renda no chão,
Com suas sombras trêmulas e levadas,
Fluindo entre os dedos das mãos.

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