Nasci sem ter sonhos.
Fui vivendo, fui andando, sem nada querer.
Achava que qualquer coisa pra mim era boa.
... Acordava cedo, todo dia e saía para a lida.
Sol quente, pouca comida e pouca sombra.
Quanto mais pedra eu quebrava, mais tinha.
Olhava de longe os outros meninos brincando,
correndo de lá pra cá, tudo sorrindo.
Às vezes, eu tentava dar uma olhadinha,
para tentar ver os outros, mas meu pai dizia:
“Óia o trabaio, não para não!”
Chegava em casa no final da tarde,
minha mãe, sem sorriso, piscava os olhos
para mim, como dissesse: “Por hoje, acabou.”
Hoje, mesmo estando velho, fico a lembrar
da voz de meu pai, do rosto de minha mãe.
E sempre à noite, quando fico só, vem à lembrança,
vejo as pedras diante dos meus olhos,
sendo quebradas sob aquele sol forte.
Onde estarão os meninos que corriam?
O que fazem hoje? Serão felizes?
A única tristeza que tenho daqueles tempos,
é não ter uma única lembrança
de ter brincado com os outros,
um pouquinho só,
somente uma vez...
Regiana Amorim
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